Não importa em qual geração você tenha crescido, em qual realidade ou com qual gosto. De uma forma ou de outra, não tem quem não tenha passado pelo menos algumas horas de sua vida completamente absorto em um jogo.
Tem quem prefira um bom jogo de tabuleiro para reunir a família e tem que goste mais de uma maratona de algumas horas de vídeo game, mas a verdade é que de um jeito ou de outro, os jogos hoje são uma ferramenta importante para a criação de conexão.
Grandes companhias já enxergaram esse potencial, e foi isso que motivou a onda de gamificação como instrumento de desenvolvimento empresarial ou criação de redes. Demais, né?
Vamos do começo: o que é gamification?
Traduzido para português como “gamificação”, a técnica busca trazer as rotinas e os desafios de empresas ou de aspectos educacionais para a lógica dos jogos. É uma forma de criar interesse e engajamento por parte do público utilizando gatilhos que já são velhos conhecidos dos jogos, como o sistema de pontos ou de desenvolvimento de skills.
Grandes marcas já deram o “start game”.
Você pode não ter percebido, mas talvez já tenha passado por um processo que foi gamificado. Esse fenômeno acontece de maneira cada vez mais orgânica, se tornando um hábito muito bem recebido pelo público. Confira só alguns exemplos.
Gerdau
Uma referência no ramo siderúrgico, a Gerdau foi estratégica ao utilizar o sistema de gamificação em sua área de desenvolvimento de pessoas. Com o uso de óculos de realidade virtual, ela redefiniu os cursos tradicionais e envolveu um processo mais interativo de aprendizado.
Starbucks
Para muitos, tomar um café é um hábito diário, então que tal a ideia de transformar isso em um jogo? A Starbucks criou um aplicativo que rastreia, controla e sugere hábitos para os usuários, além de premiá-los das mais diversas formas.
Nike
Através do aplicativo Nike + Running, a empresa foi capaz de desafiar seus usuários a irem além em suas corridas. A partir do momento em que podem observar suas conquistas e detectar pontos falhos, os corredores passam a ser mais competitivos e melhorar seus desempenhos.
Stanford University
Uma das universidades de maior mérito no mundo também incorporou o gamification para evitar os congestionamentos nos horários de pico do campus. Ao oferecer recompensas, a proposta estimulava os alunos a se locomoverem em horários alternados, criando um rodízio natural de carros.
Nem só de diversão vivem os jogos.
Quando começamos a jogar, queremos nos divertir. Por isso, é comum e altamente recomendado que qualquer jogo proporcione um tempo de entretenimento e lazer. Mas o segredo é não se limitar a isso e enxergar mais longe.
É aí que entra o conceito de serious games: uma combinação entre jogo, aprendizado e simulação que transmite uma mensagem e um conteúdo relevante ao seus usuários, de forma a contribuir para a sua formação ou para um propósito idealizado por um grupo.
Os serious games podem ser um grande aliado para muitas tarefas. Um jogo sem propósito claro é apenas entretenimento.
Essa tendência não é novidade!
Apesar de ser inovador e moderno, o conceito de gamificação começou a ser usado no século XX, entre os anos 60 e 70. Foi nos anos 2.000, um tempo em que os jogos invadiram nossos lares com toda força e nos estimulavam a passar horas em obras como Resident Evil, que o termo passou a ser usado para designar jogos eletrônicos que ensinavam.
Logo ficou claro que essa ferramenta tem muito mais potencial do que se imaginava e a técnica passou a ser amplamente estudada pela academia. Uma boa dica para quem quer se aprofundar no tema e ir a fundo no assunto é dar uma olhada no conteúdo acadêmico produzido por Henry Jenkins – MIT, David Rejecsk e Ben Sawyer.
Ah, e o Brasil não fica de fora. Por aqui, a referência fica nos jogos jornalísticos de pegada ativista criados por Gonzalo Frasca e Ian Bogost, percursores desta onda.
Qual player VOCÊ escolhe?
Você se lembra quando, nos jogos clássicos e nostálgicos de luta, era possível escolher entre diversos personagens com diferentes habilidades?
A escolha era difícil, não é mesmo? Mas o segredo está em encontrar a opção que melhor se adapta ao seu estilo de jogo, e isso não muda quando estamos falando de gamificação.
Hoje separamos 4 tipos de jogadores clássicos que são encontrados em processos gamificados. Dá só uma olhada:
Matador: provoca sofrimento. Lembrou de algum colega de trabalho complicado? Pois é! Um perfil que não devemos fomentar.
Alcançador: oferece o melhor desempenho. É aquele jogador que dá tudo de si e capricha nos resultados! Ele ama um ranking e luta para estar entre os melhores.
Socializador: o expert em relacionamentos. O player que sabe criar boas conexões e um bom clima para todos.
Explorador: a palavra da vez é a profundidade. Ele busca por autonomia e adora novos desafios.
O estudo de Richardo Bartle, de 1996, intitulado “Hearts, Clubs, Diamonds, Spades: Players Who Suit MUDs” ainda nos inspira e nos ajuda a avançar.
Nada de game over
Saber usar a gamificação é um processo que deve ser lapidado e é sempre bom fugir de erros comuns, que podem te afastar do seu objetivo. Para te ajudar, trouxemos alguns equívocos que devem passar longe das regras do seu jogo.
- Modismo
É claro que estar na moda é bom, mas fuja de clichês e repetições que já estão sendo usadas de forma excessiva. Assim você não corre o risco de banalizar seu material. - Falta de planejamento
Essa é clássica, mas sempre merece ser citada. Começar um projeto de gamification com um bom planejamento é ter a certeza de marcar muitos pontos. - Ação sem reflexão
Uma das melhores coisas sobre os jogos é que eles permitem que as pessoas se unam, contribuam com um objetivo comum e troquem boas experiências. Quando não está nas regras, isso pode ser obtido por meio de sessões de reflexão. Utilizar isso ao seu favor é fazer o melhor uso possível da gamificação. - Desperdiçar o aprendizado.
Seu jogo, ou serious game, pode ser o melhor do mundo, mas de nada adianta se ele não trouxer um resultado interessante para a finalidade ao qual foi projetado. Gerar aprendizado é garantir que o que o propósito foi aprendido.
Sem ética não tem jogo
Ao desenvolvedor, o aspecto ético é uma das preocupações que deve ser levada em consideração. Como aponta Prensky, nos jogos – e não só neles- realidade e simulação se confundem e permitir que esta separação seja feita se faz necessário.
Assim como nos jogos, criamos hábitos e treinamos habilidades. Assim, podemos reforçar preconceitos ou incentivar comportamentos socialmente danosos. Entra aqui o papel do design ético.
Com a ética a gente não brinca!
E na gestão? Passe de fase!
A gamificação pode estar em toda parte. No processo de alcance das metas, na redução de desperdícios no restaurante, na melhoria da qualidade de vida dos funcionários,na transformação cultural, no programa de recompensas e até no treinamento.
Tornar os processos mais simples, adequados e divertidos pode ser um grande aliado na melhoria dos resultados.
Vença o chefão! Entre na nova fase.
Termine o jogo como um campeão.
Nós ficamos por aqui, mas esse game mal começou. Agora é hora de soltar a criatividade, criar jogos que engajem e inspirem pessoas, utilizá-los na solução de grandes desafios na sua vida ou simplesmente divertir-se. Use essa ferramenta para que sua empresa atinja novas metas, seus colaboradores cresçam como pessoas e profissionais, para trazer informação ao público e, claro, para criar uma conexão especial com qualquer pessoa que tope entrar nessa partida com você. Nesse jogo, o vencedor é aquele que consegue crescer e evoluir se divertindo.